Seleção (não) brasileira.

Primordialmente, a Seleção sempre foi um orgulho nacional, em momentos difíceis da história brasileira no último século, sempre acompanhou o torcedor. Era a maneira mais fácil de unir o país todo em uma comemoração, já que, adaptando Milton Neves, torcer para o Brasil era “moleza”. E hoje, a Canarinho se vê distante de sua torcida. Por que a seleção brasileira está tão longe de seu povo?

Distância clubista

Além dos resultados, a Seleção era onde os torcedores de todos os clubes podiam deixar a perseguição de lado e torcer por jogadores rivais. Era por causa dela que se via rivais regionais torcendo por Zico e apreciando a qualidade de Pelé juntos, sem qualquer clubismo.

Por exemplo perfeito disso, o ovacionadíssimo time titular do tri mundial em 1970. Bem como era composto apenas por jogadores de Santos, Cruzeiro, Grêmio, Flamengo, Botafogo, Fluminense, São Paulo e Corinthians. Esse time, comandado por Zagallo, é considerado até hoje a melhor seleção brasileira de todos os tempos, e a conquista daquele mundial é, possivelmente, a conquista esportiva mais festejada pelo país até hoje, o que só comprova o quão importante é a proximidade dos atletas com seu povo quando se trata dessa conexão com a torcida.

Os jogadores titulares da conquista do tri mundial e seus respectivos times. A Canarinho se vê distante de sua torcida.
Imagens: Exotic Data/YouTube

Não é difícil perceber que, com a evolução do futebol em termos de cifras, se tornou comum que os grandes destaques técnicos de terras tupiniquins migrem quase naturalmente para a Europa. Em 1994, na conquista do tetra, apenas dois times brasileiros estavam representados entre os 11 ideais: Palmeiras, por Mazinho e Zinho, e Fluminense, por Branco. Apesar disso, ainda era um time conectado com seu povo, já que outros atletas, como os destaques Taffarel, Romário e Bebeto já possuíam identificação com clubes grandes do território nacional.

Na conquista do penta em 2002, o efeito é parecido. Afinal, apenas Marcos, Gilberto Silva e Kleberson jogavam o campeonato nacional (por Palmeiras, Atlético Mineiro e Athletico Paranaense, respectivamente). Por outro lado, jogadores como Lúcio, Ronaldinho, Roque Júnior, Roberto Carlos e Cafú já haviam sido campeões por grandes brasileiros.

Falta identidade.

A diferença entre esses times gloriosos e a última disputa de Copa do Mundo é gritante. Entre todos os 23 convocados, apenas Geromel(Grêmio), Cássio e Fágner(ambos do Corinthians) foram convocados por Tite atuando em solo brasileiro. Dos três, apenas o lateral-direito entrou em campo(consequência da contusão de Daniel Alves, na época jogador do Paris Saint-Germain).

Ultimamente, a pergunta que fica é: Quem se afasta, os torcedores ou a própria seleção? Afinal, não é difícil concluir que, por desinteresse natural e dificuldade de acesso do povo à campeonatos europeus, criar hoje tanta empatia quanto antigamente ao assistir os jogadores que representam o seu país é impossível.

Distância física.

Além disso, a localização dos jogos também não ajuda. Ademais, por motivos financeiros, ao invés de levar as estrelas ao país e apresentá-las melhor ao grande público, muitas vezes jogos amistosos são disputados nos mais diversos países, cada vez passando mais tempo longe de seu povo. Mais uma vez, e agora literalmente, a Canarinho se vê distante da sua torcida.

Por exemplo, em 2019, o Estádio Nacional de Singapura, com apenas 37% de sua capacidade ocupada, “apreciou” um empate sem sal entre Brasil e Senegal. No fim das contas, valeu mesmo a pena se distanciar do brasileiro?

O brasileiro ainda quer amar sua Amarelinha, mas parece que ela que não quer ser amada. Volta pro povo, Seleção.

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